terça-feira, 15 de novembro de 2016

Quando falamos em sonhos, logo pensamos naquelas coisas difíceis de realizar. Naquelas coisas que tomam nosso tempo, nossa energia, mas que nos movem. Que nos fazem acreditar que vamos chegar lá. 

E, no meio do caminho, aparecem milhares de pedras. Algumas você lança pelo lago e vê quicando na água. Outras a gente chuta. Mas, tem aquelas, que a gente guarda. Que, por mais difíceis de carregar, elas fazem parte de uma coisa muito maior do que podemos imaginar. 

As minhas pedras? São 26. Fazem parte da minha vida inteira. Assim como meu nome completo, vão de A a Z. São todas as letras.

Letras que formam, que expressam, que acolhem, que ensinam, que expõe, que educam, que revoltam, que enlouquecem. São pedras no caminho que eu escolhi guardar, por mais pesadas que fossem. 

Se eu tivesse estudado engenharia, construiria prédios. Se eu tivesse estudado medicina, salvaria vidas. Mas, quando se estuda letras, se escolhe muitas vezes nem dizer, para esperar pelas palavras certas. 

E, carregar essas letras, é um fardo difícil de carregar sozinho. Daí elas nos saltam num verso qualquer em alguma linha vazia. E, quando a gente vê, elas estão ali guardadas na sua gaveta, amontoando poeira. 

Daí vem a vida, essa estranheza louca da natureza - que não nos pede licença, nos larga no mundo e nos deseja boa sorte  - e faxina a sua história com um olhar de mãe que lê os seus diários enquanto você dorme e lapida aquelas suas pedras tão difíceis de carregar. 

E, daí, você descobre que todas aquelas pequenas feridas, que a trajetória da sua vida deixa na suas histórias, eram apenas pequenos diamantes sendo lapidados. E você olha pra trás, com aquela sensação nostálgica e diz pra si mesmo: valeu a pena.

Eram os nossos sonhos. Ali, engavetados, esperando que o tempo fizesse o milagre de existir e nos ajudasse a chegar lá. E quando a a gente chega, a gente se pergunta: será que o lá, continua lá? Bem... se é sobre sonhos... Enquanto sobrarem energias, eles continuarão nos movendo, porque menor que nossos sonhos, não podemos ser. 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

"To tão triste. Sinto uma sensação de vazio que ecoa em mim. Parece que algo me rasga a alma, me aniquila e, de repente, já não sou mais eu. 
Estou atrofiando. Meu coração é uma peneira que escorre sangue. Meus sentimentos foram apedrejados feito Madalena em pão e circo. Não tenho mais forças para solucionar o que não tem solução. 
Estou procurando os vestígios do que restou. Sobrou-me, apenas, amargas palavras de um conto de fadas; falsas - e doces - palavras de uma história sem final feliz."

Augusto Santos da Cruz

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Levanta

Vem aqui; meu divã
Sou sábio d'arte de resolver os devaneios alheios
Mas os meus são tão difíceis
E sempre cansado
Sempre com preguiça
de prestar-se a eles!

Amanhã e depois
Adiando, impensáveis.
Há soluções pro comodismo: desacomoda!
Encara.

O tapa estala!
Sacode esta que
Empurraste pra baixo do tapete
Não te acumules
O teu fardo é pesado.
- Por favor, amargo.

Augusto Cruz

Atrás das lentes

Das lentes, o aumento.
Foco e malícia; película cinematográfica.
Uma pena, tinta e forma.
São metáforas da vida.

Complexa e infinita dum ciclo contínuo
- Bote um; segue essa roda.
Estoura tuas correntes pra si.

Desperta-te!
Como furacão quente do anjo que caiu
Tridente te espeta e coloca-te de pé
Obriga-te a abraçar-se.

Augusto Cruz

Nível elevado ao ponto final

Todas as vezes em que debruço-me a escrever uma boa narrativa, encontro dificuldade em colocar um fim. O clímax nunca é demais para mim. Pode ser sempre um pouco mais.
Minhas personagens custam a me deixar as entranhas. Parece que sempre querem algo a mais para absorver de mim. Percorrem meu eu em busca de uma nova solução para o enredo; mesmo quando já esgotou-se.
O mau do escritor, talvez seja esse: a insatisfação a sua obra.
Há histórias que se mexidas, podem estragar. E nisso o seu criador peca. Insiste. Acaba jogando todas as páginas no lixo.
O ponto final pode não ser o fim. O ponto final pode ser um novo começo.

Augusto Cruz